Quem és tu no Japão?
A minha primeira viagem ao Japão

A minha primeira viagem ao Japão

Museu Ghibli

Mal sabia eu que, a viagem ao Japão que marcou a minha vida, começaria em 1982 quando a RTP passou uma série de desenhos animados fascinantes.

Nessa altura, as séries não eram dobradas em português mas sim legendadas, dando assim a oportunidade de ouvirmos a série com a língua original, neste caso o japonês. Só o nome era normalmente traduzido, assim a “Mirai Shônen Conan”, foi dado o nome de “Conan o Rapaz do Futuro”.

Foi o meu primeiro contato com a cultura japonesa e que logo me marcou.

Lembro-me de ir para o quarto com os meus irmãos e irmã brincar de Conan, Lana, Dice e Jimsy. Imitávamos os sons que tentávamos reproduzir com o mesmo entusiasmo que eram vociferados na série.

Mais tarde quando tinha 16 anos, voltou a dar a série e eu decidi que queria dar sentido aqueles sons que tanta alegria me deram e que ainda me fascinavam. Fui aprender japonês na fundação MOA (Motiki Okada Fundation) e desde então tenho estudado a cultura japonesa em todas as suas vertentes, desde a língua até às artes.

Em 2004 realizei, finalmente, o sonho de ir ao Japão sozinho durante um mês, percorri o Japão de Hokkaido a Kyûshu, que é como dizer de Norte a Sul. Voltei lá mais duas vezes posteriormente, uma com amigos e outra com a minha mulher onde a pedi em casamento. Nas duas últimas viagens, entre outros locais, fui ao famoso museu Ghibli onde se pode admirar todo o trabalho do Mestre Hayao Miyazaki, e ver um universo que nos transporta à nossa infância. Fica a poucos kilómetros de Tokyo e é um óptimo destino para passar um dia para quem tem crianças ou para quem ainda não perdeu o espírito de criança.

 

A viagem ao Japão de 2004

Em 2004 decidi fazer a minha primeira viagem ao Japão. Estava numa fase da minha vida em que precisava de reflectir sobre mim mesmo e nada melhor que um país com uma filosofia que me inspirava para o fazer. Fui sozinho e sem nada marcado, excepto o avião e JR Pass de 14 dias, pois isso ajudaria ao processo.

Como eu não consigo dormir nos aviões, e após 14 horas de viagem só de Amesterdão para Tokyo, cheguei ao Aeroporto de Narita meio atordoado mas cheio de adrenalina e curiosidade por finalmente estar no país que sempre sonhei conhecer. Na altura, ainda era preciso validar o JR Pass no aeroporto e aproveitei para marcar o alojamento para os primeiros dias em Tokyo.

Há um serviço no aeroporto e em algumas estações JR (Japan Railways) chamado Yokoso Japan que tem umas simpáticas empregadas que nos ajudam a procurar e marcar alojamento desde que seja abaixo de 8000 ienes. Mesmo assim é bom que se tenha um conhecimento prévio da zona onde queremos ficar para não se perder muito tempo com as deslocações. Eu sempre fui um fã de Ueno.

 

Ueno

Ueno é um bairro de Tokyo que fez parte da Shitamatchi, literalmente debaixo da cidade. Era onde a classe trabalhadora residia e talvez por isso e aliado ao fato de ter sido das poucas áreas de Tokyo que não foi completamente arrasada pelos bombardeamentos americanos da Segunda Guerra Mundial, mantêm uma atmosfera muito sossegada e um conjunto de templos antigos, entre os quais um dedicado a Tokugawa Ieyasu, o Tôshô-gû. É também onde se podem encontrar uns Ryokan familiares muito agradáveis e acolhedores, por um preço muito acessível.

Foi lá também que se desenvolveu o mercado negro depois da guerra que deu origem ao mercado Ameya-yokochō. Tem o Parque de Ueno, que para além de ter dois museus e um templo no centro, tem também um magnífico Zoo. Infelizmente é também onde existe a maior concentração de “invisíveis”, os desalojados de Tokyo.

 

A viagem ao Japão que começou em Tokyo e acabou em Tokyo

Cheguei a Tokyo direto de Narita até à estação de Ueno. Daí fui para um Ryokan onde fiz a minha base para explorar Tokyo durante o dia, e planear o destino seguinte com a ajuda do meu guia.

Depois de sair de Tokyo decidi ir para Matsushima, uma baía pontilhada de dezenas de pequenas ilhas e considerada uma das 3 melhores vistas do Japão. Para lá chegar é que foi o problema. Uma vez que fui sem nada marcado, reservei o bilhete no Shinkansen (TGV japonês) para Sendai e que partia na noriba 20 (linha 20) às 9:05. Cheguei à noriba 20 às 8:50 e estava lá um Shinkansen à minha espera. Entrei nele e ele partiu uns minutos mais cedo do esperado. Fiquei admirado. Sempre pensei que eles fossem pontuais mas adiantados era de espantar.

A meio do caminho e já sentado no meu lugar, aparece uma senhora que entrou nessa estação, que diz de uma maneira muito delicada, e diria mesmo incomodada, pedindo desculpa por me maçar que eu estava sentada no seu lugar. Eu mostrei-lhe o meu bilhete que indicava o lugar e carruagem correctos onde eu estava sentado, o que não estava correcto, era o meu destino. O Shinkansen dirigia-se para Nagano e não Sendai. Com mil pedidos de desculpa fui ao encontro do “picas” e disse-lhe que me tinha enganado e uma vez que ía sem destino pré-marcado, não me importava de ir para Nagano em vez de Sendai.

Os japoneses podem ser muito simpáticos, mas quando algo sai dos carris eles têm dificuldade em lidar com isso.

O homem não percebia o que eu queria fazer, fazia-lhe muita confusão eu querer ir para um destino diferente do que tinha originalmente planeado. Resultado, tive que sair do comboio e voltar para Tokyo e apanhar outro Shinkansen para Sendai. Cheguei tarde e como consequência o serviço Yokoso Japan estava já praticamente a fechar. Ainda consegui uma dica para um hotel em Matsushima mas não era dos mais baratos apesar de ter uma vista magnífica sobre a baía. Depois de Matsushima, fui para Hakodate, Sapporo, Nagano, Himeji, Kyoto, Nara, Kawaguchiko e voltei a Tokyo.

Posteriormente contarei em pormenor essas etapas e peripécias que me ajudaram a descobrir mais um pouco do povo japonês e o mais importante, a descobrir um pouco mais sobre mim.

AUTOR: JORGE FERRÃO


Neste vídeo faço um apanhado da segunda parte de Tokyo há 20 anos. Demorou um pouco mais do que esperava mas não queria deixar de publicar antes da minha próxima viagem ao Japão. Posteriormente farei um video comparativo com o Japão 20 anos depois, mas agora viajem ao passado e divirtam-se.

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