Quando penso no verão japonês, imediatamente me vem à mente a tradição dos hanabi, os esplendorosos fogos de artifício que iluminam as noites quentes com cores e sons. Os japoneses mais novos cresceram a ouvir os adultos gritar "Tamayaaaa!" a plenos pulmões, numa competição amigável para ver quem conseguia ecoar mais alto o nome da famosa família de fabricantes de fogos de artifício. Era como se cada explosão colorida no céu trouxesse um pedaço de magia ao nosso mundo.
No entanto, como tudo o que é bom, os hanabi também enfrentam tempos difíceis. Com o aumento de queixas de danos materiais, especialmente nos barcos ancorados nas proximidades dos lançamentos, o futuro desta tradição está em risco. Parece que os fogos estão a "arder o pavio" da paciência de muitos, especialmente quando as contas de reparações começam a chegar.
Outra preocupação crescente é a emissão de dióxido de carbono, que os fogos de artifício tradicionalmente libertam em abundância. Em tempos em que a pegada ecológica é um tema quente — tão quente quanto os próprios fogos —, muitos se questionam sobre o impacto ambiental destes espetáculos.
Mas voltemos um pouco atrás, para a infância japonesa que é tão influenciada por estes espetáculos luminosos. Verão após verão, os japoneses aguardam ansiosos pelas festividades, com os hanabi a servirem de pano de fundo para muitas memórias de infância. Cada explosão no céu era como um "tiro certeiro" no coração jovem dos japoneses, enchendo-os de alegria e admiração.
Os hanabi são protagonistas de muitos filmes e animações japonesas, como o icónico *Verão de Kikujiro* de Takeshi Kitano, onde as personagens se embalam na nostalgia e emoção que os fogos trazem. Aliás, Kitano sabe como ninguém captar o espírito efervescente do verão nipónico, quase como se cada faísca no céu contasse uma história. Existe até um outro filme dele chamado de Hanabi, apesar de não ter diretamente a ver com os fogos de artificio. Existem até Ukyo-e que já registavam esse espetáculo desde o tempo de Tokugawa. Hiroshige era um dos muitos artistas que era fascinado por essa tradição. Isto tudo revela que este fogo mantêm-se vivo na cultura japonesa.
Agora, enfrentamos a possibilidade de ver os hanabi "desaparecerem numa nuvem de fumaça", caso as preocupações modernas sobreponham-se à tradição. Não seria uma ironia do destino, os fogos de artifício, símbolos de celebração, acabarem por ser "extintos" por queixas e regulamentações? Seria como se a pólvora perdesse o seu "brilho" e os céus, outrora repletos de cor, fossem substituídos por um "cinzento legal".
No entanto, ainda existe esperança. Muitas comunidades estão a procurar soluções para garantir que os espetáculos de hanabi possam continuar. Uma dessas soluções inovadoras é o uso de drones para criar espetáculos de luzes no céu, minimizando assim o impacto ambiental e os riscos associados aos fogos tradicionais. Estes "fogos de artifício digitais" prometem iluminar o céu de forma segura e sustentável, mantendo viva a tradição sem a "poluição pirotécnica".
Afinal, ninguém quer que a tradição se torne numa "bomba-relógio" prestes a explodir. Há quem diga que as tradições são fogos eternos, passando de geração em geração. E eu acredito que, com um pouco de engenho e muita paixão, os hanabi continuarão a iluminar as nossas noites de verão, tal como sempre fizeram.
E assim, enquanto nos despedimos de mais um verão, talvez seja altura de gritar "Tamayaaaa!" mais uma vez, não só em homenagem ao passado, mas também na esperança de um futuro onde a tradição brilhe ainda mais intensamente.
Neste vídeo faço um apanhado da segunda parte de Tokyo há 20 anos. Demorou um pouco mais do que esperava mas não queria deixar de publicar antes da minha próxima viagem ao Japão. Posteriormente farei um video comparativo com o Japão 20 anos depois, mas agora viajem ao passado e divirtam-se.
Hanabi é uma tradição de Verão que pode ter os seus dias contados. Estes fogos de artifício já começam a dar mais problemas do que alegrias para alguns japoneses. Será que este fogo será extinto da cultura japonesa?
Bronze contra o Japão, que emoção. Mas não é por isso que a atleta japonesa deve cometer Seppuku. Há comentários que me dão a volta à barriga mas não é por isso que a vou cortar.
Tokyo já não é o que era há 20 anos. Tokyo mudou, o Japão mudou, o mundo mudou. Mas é engraçado de vez em quando olharmos para trás e ver que, apesar da mudança, há coisas que se mantêm. Se tem curiosidade de conhecer Tokyo há 20 anos, veja este vídeo.
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