Quem és tu no Japão?
Bronze contra o Japão, que emoção.

Bronze contra o Japão, que emoção.

Bronze contra o Japão, que emoção | Fujir - viagens ao Japão

Ganhámos Bronze contra o Japão com a nossa brilhante judoca, Patrícia Sampaio, que conseguiu uma vitória estrondosa contra a japonesa Rika Takayama.

Ora, esta vitória foi tão épica que até os mais cépticos adeptos de outras modalidades consideraram, por breves instantes, trocar as camisolas de futebol pelo kimono de judo!

Sendo eu português fiquei radiante, mas como fã acérrimo do Japão houve um comentário um tanto absurdo que um conhecido meu disse que, pelo código de bushido, a Rika Takayama, sendo japonesa e o judo uma arte marcial do seu país, teria que cometer Seppuku, ou seja, harakiri, pela derrota. Claro que isto não passa de uma piada de mau gosto, mas deu-me a volta à barriga e fez-me pensar sobre a importância do espírito desportivo e do desconhecimento que o Ocidente tem sobre a conduta daquela época e como entra em conflito com a nossa.

No código do bushido, que é o conjunto de princípios éticos e morais seguidos pelos samurais no Japão feudal, a confrontação com um inimigo é vista como um último recurso, não como um objetivo a perseguir levianamente. O bushido valoriza a honra, a coragem e a justiça, mas também preza pela sabedoria e pela compaixão. Um verdadeiro guerreiro deve evitar conflitos desnecessários, buscando sempre a paz e a resolução pacífica das disputas. No entanto, quando o confronto é inevitável, o guerreiro deve enfrentá-lo com determinação e bravura, mantendo sempre a integridade e o respeito pelo adversário. Assim, no espírito do bushido, enfrentar um inimigo não é apenas uma questão de força física, mas também de força moral e ética, refletindo a verdadeira natureza de um samurai. Afinal, a maior vitória é aquela que se conquista sem derramar sangue, e a verdadeira sabedoria está em saber quando lutar e quando recuar.
No caso de derrota, e perante a humilhação poderia ser pedido ao seu Daimyo (senhor feudal superior) que cometesse Seppuku, mas de notar que muitas das vezes era recusada pois, encaravam como forma de aprendizagem. Ora se todos os Samurais cometessem Seppuku ao primeiro deslize, não haveria modo de evoluírem já que até no Japão se aprende com os erros.


Voltando à nossa campeã, tenho a dizer que Patrícia Sampaio conseguiu provar que, com muito esforço e dedicação, até o mais tradicional sushi pode ser acompanhado de um bom bacalhau à Brás. Imagino a Rika a pensar, antes do combate, que ia ser canja de miso; mas mal sabia ela que a nossa Patrícia estava mais afiada que uma katana japonesa.

É claro que o caminho da Patrícia até à vitória não foi um passeio no tatami. Com treinos diários mais duros que Katsuobushi, ela conseguiu superar cada obstáculo com a destreza de uma verdadeira ninja. A sua técnica foi tão precisa ao milímetro que faz lembrar um carpinteiro japonês a ajustar um móvel com a sua plaina.

Mas vamos ser honestos, este combate foi mais do que uma simples luta entre duas atletas. Foi um encontro cultural onde o Japão trouxe o judo e nós trouxemos o espírito lusitano, aquele que transforma sardinhas em sushi e fado em música J-pop. Quem diria que uma menina de Portugal conseguiria deixar o Japão de olhos em bico?

E agora, enquanto o país celebra esta vitória, deixo aqui uma reflexão: no mundo do desporto, assim como na vida, ganhar ou perder faz parte do jogo. O importante é levantar-se, sacudir o pó do tatami, e seguir em frente, sempre com um sorriso e no meu caso, se possível, um trocadilho na ponta da língua.

Por isso, parabéns, Patrícia! Brindamos à tua vitória, que foi mais saborosa que um pastel de nata acabado de sair do forno. E que venham mais conquistas, que nós cá estaremos para as celebrar com todo o orgulho e que com vontade de rir até doer a barriga, mas sem a cortar.

04 AGOSTO 2024

AUTOR: JORGE FERRAO